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Paixão pela Bola


Caro leitor amigo, cada um que lê este blog tem o lugar de amigo aqui do editor, aliás indissociável este vínculo e hoje mesmo, trocando mensagens com meu amigo de décadas e de experiências cósmicas numa Califórnia longínqua mas nem tanto de 1986, Baghavan Das, me chegou a visão simplória e inquestionável de que somos de verdade parte de um todo, e, em sendo, somos um só, partidos em pedaços feito um mosaico, ou vitral de uma igreja única, este maravilhoso universo, organismo vivo e transiente, portanto, meu caro amigo, tenho o prazer de apresentar o Padre Gilberto Cunha, de Porto Alegre. Ele ocupará este espaço para uma Missa Dominical. Uma missa, entretanto, diferente; suas reflexões, suas lembranças, suas vibrações neste mundo que passa diante de nossos olhos, tão caótico quanto maravilhoso... O Padre Gilberto Cunha andou pelo mundo, retornou ao seu lugar de origem, estudou e tornou-se padre, encontrou sua vocação. Olhando pelo retrovisor ele escreve e a primeira contribuição para sua Missa Dominical me chegou com o prazer da nostalgia e saudade, da Paróquia que frequentei quando estudava no Colégio São Paulo de Niterói, Canoas, no Rio Grande do Sul, ele enviou-me uma imagem clicada instantaneamente, da Paróquia São Paulo Apóstolo. Luís Peazê

Alguns amigos não acreditam que fui um menino mirradinho, pequeno e apaixonado por futebol. Era um centromédio que um dia foi deslocado para a lateral esquerda e que também, quando preciso, corria pelas pontas do campo. A bola era uma paixão e com ela travei os meus mais longos e íntimos diálogos de domínio. Ela tinha de obedecer aos meus comandos e isso exigia muito treino, muito. Às vezes, treinava até a exaustão e, algumas vezes, chorava com as dores no corpo. Se em casa não tive os maiores incentivos (futebol não dava dinheiro naquele tempo) pelo menos a vida me compensou com grandes treinadores que acreditavam no guri mirrado que corria por todos os lados do campo.

A minha história com o futebol terminou naquele dia em que fiz uma escolha pelos livros, mas a paixão continua ainda hoje. Faz tempo que não “bato uma bolinha”, o corpo não ajuda e a motivação desapareceu. Mas as lembranças continuam como se o tempo não tivesse passado. Ah!... A bola com seus doze gomos (algumas com trinta e dois) parecem tocar os meus pés, acariciar o meu peito e deitar-se no gramado a meu feitio para colocá-la no gol ou no alcance de outro jogador. A bola continua sendo uma paixão de cabeça e de alma. E aquele campo do Lansul se inscreve a cada dia em que sonho com a bola.

Há pouco um amigo, tão mirrado quanto eu, daqueles tempos, me confessou – do outro lado do mar – que faz mais de vinte e cinco anos que não joga uma bolinha. Mas, vejam só o que ele me diz: “Mas quando uma pelota cai perto de mim quando passo por aí, perece que não faço outra coisa na vida, ela cola no meu pé, no peito, cola na cabeça, fica quietinha, doce e redondinha... Parece que é a única coisa na vida que faço sem fazer esforço”. É meu Caro Claudinho, a vida tem lá as suas compensações e uma paixão, de alguma forma, nunca termina, sempre há de viver em nós, nas sensações que trazemos na alma e no corpo.

Aqui, nos meus sonhos, de vez em quando, a bola rola redondinha e vem aquietar-se na parte externa do meu pé e meu coração a reconhece como aquela que um dia me fez acreditar que mais do que uma esfera ele é um ponto de apoio para os meninos pobres e mirrados das periferias...

* Pe. Gilberto Cunha - Padre e Psicólogo

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