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HOPE & The Intercept: esperança ou destruição irreparável?


Cuirosamente, no dia em que lancei Futebol 10 x 0 no Estado de Direito, aliás horas após eu clicar “publish” no painel do CreateSpace/Kindle (2014), recebi um telefonema, ignóbil, para dizer o mínimo, a voz do outro lado da linha apresentando-se como Patrick, representando a FIFA, e pedindo para eu tirar o livro do ar ou modificá-lo seguindo comentários que seriam enviados por email. Até aquela altura, o meu sangue entrava em ebulição nuclear em fração de milésimos de segundos, e a minha reação foi bem mais do que ignóbil. O livro está disponível desde então, já foi citado em trabalhos acadêmicos, em cursos da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero e, até onde fui comunicado, por um grupo de estudantes de alto nível em Londres. O livro cumpriu o seu momento e ora estou trabalhando na sua reedição atualizada. Lembrei deste episódio pessoal, ao me inteirar, por osmose, sobre as revelações de conversas, em plataformas de voz via IP, de juristas e políticos brasileiros. Mas não foi apenas por isso. Porque fui contactado novamente de forma... estranha. Um convite direto para participar como palestrante no HOPE - Encontro de Hackers em New York City. Felizmente, hoje, reajo numa velocidade compatível com a minha essência anti-bomba, e dá tempo para ponderar e escolher uma saída mais confortável.

O HOPE, para quem não sabe, significa Hackers no Planeta Terra, e o evento cunhado de Circle of HOPE, este ano em NY em julho próximo (20, 21 e 22), ocorre anualmente desde 1994. A propósito, a tradução pode ser ambiguamente sinonímia: “círculo da esperança, ou dos hackers”.

No contexto, jornais do Brasil vêm estampando manchetes e repetindo a palavra “hacker(s)” atribuída ao(s) responsável(eis) pelo vazamento de conversas de ministros de estado, juristas, advogados, políticos, artistas e empresários. Os coleguinhas estão equivocados, devem corrigir suas matérias, devem utilizar a palavar “cracker”. Há uma distinção bem específica entre as duas terminologias. Do contrário seria possível a polícia fechar o hotel Hotel Pennsylvania in New York City e prender todo mundo, no primeiro dia daquele evento.

Voltando novamente no tempo, era 2003 e eu me entretinha inspirado na linguagens Assembler e Basic, tentando entrar na minha própria máquina escrevendo comandos em hexadecimal no ambiente OS, em algumas ocasiões cheguei a criar conflitos terminais e isto, ao invés de me assustar porque quase perdi meus arquivos de terráqueo normal, me estimulou a continuar a brincadeira, porque significava que eu havia chegado a alguma parte vulnerável da BIOS e, com um pouco mais de esforço eu conseguiria invadir “criminosamente” minha própria máquina. Mas minha intenção era mesmo outra, encontrar uma codificação que fosse invulnerável, fazia experimento com binários e exatamente com o nono bit de um byte onde fosse possível guardar chaves (em outras palavras, eu pensava criar uma criptografia própria). Não pude ir adiante, na altura eu já vivia numa zona costeira rural na Bahia, construia barquinhos de madeira e tocava a mesma vida modesta de sempre. Mas conclui uma fase de meu experimento: criei o W$3, a teoria de um novo sistema monetário, aparentemente utilizando esse sistema que rotularam de bitcoins, mas muito mais amplo e deglutível pelo homem ordinário.

Naquela época cheguei a trocar emails com Richard Stallman, perguntei-lhe se teria uma ideia de como guardar uma informação num único bit, de forma que aquele bit viajasse no espaço digital, via rede global de computadores e mesmo off line, sempre com aquela mesma informação, como se fosse um DNA. A conversa inclinou-se para o ceticismo e não avançou... Stallman, conhecido como RMS, entre vários atributos que ficarão para a história sideral é o fundador da Free Software Foundation, um dos principais palestrantes do HOPE em NY.

Mas o que me motivou a escrever este pequeno artigo memorial são algumas perguntas que estão em aberto: os “crackers” que invadiram ambientes online de indivíduos, ultimamente no Brasil e em outros países, divulgando dados de indivíduos corruptos e ou partidarizados (de signficado quase idêntico), portanto algumas invasões necessárias, até benéficas para o domínio público, outras, entretanto, não seriam de interesse parcial do fundador do The Intercept? Do eBay, George Soros e parceiros? Por que não investigar ângulos diversos do que seria “a notícia”, ou melhor, “crackear” também o outro lado, e publicar tudo? É divulgado que o “interceptador” possui informações confidenciais dos arquivos da Agência Nacional de Segurança dos EUA, desde Snowden a Assenge, e sabido publicamente de sua proximidade cutânea com a jornalista Hollywoodiana Laura Poitras, e com a comunidade “hackers/crackers”, ou este último bit é uma falácia?

E dizer que eu tenho amigos, familiares até, que escolheram um dos lados, nos dois lados. Santa ingenuidade.

Fica uma pergunta em suspenso: deveríamos acreditar que há esperança ou algo malicioso pairando no ar, um gatilho catastrófico prestes a ser acionado? Ou pior, um novo vírus que ataca o inconsciente coletivo de modo infenso ao bem comum.

Comparo o momento atual do avanço tecnológico, do eBay à Internet das coisas, da blockchain à programação fractal-quântica que graça nos sistemas de monitoramente da Bolsa de Valores, ao que aconteceu com as questões do meio ambiente e da saúde. Somente após 50 anos da constatação da degradação do meio ambiente pelas ações antrópicas, ao final da década de 1970, o homem começou a olhar pelo retrovisor e falar no passado, para corrigir o futuro, mas continuou degradando, até hoje; na saúde o homem levou mais tempo, desde as descobertas do princípio ativo, uma das mais utilizadas pela indústria num futuro próximo, e dos contrastes para visualizar o interior do corpo humano, dos corantes e da explosão da farmaindústria, somente após um século e meio o retrovisor da medicina não invasiva, a arte médica, entrou em cena com destaque, mais uma vez para corrigir hábitos consolidados, tardiamente para muitos de nós. Antevejo uma massa crítica, em breve, olhando pelo retrovisor para corrigir os erros que cometemos agora, diante de um computador, de mesa ou na palma da mão.

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