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Sporting Cansado, Duro, Verde, mas ganhou do Portimão, e agora?


Desde o aquecimento, já dava para perceber que a parte técnica do Sporting iria ditar o jogo. Mas ditou ao contrário. – Sr. Keizer, desculpa a franqueza, eu tinha a alcunha de Cruijff quando jogava no Internacional, com a camisa 14, e o jogo que vi ontem no Leão é a antítese da versatilidade e velocidade, agressividade e “cérebro no jogo”.

Já no aquecimento, antes da cabeça* do inimigo começar a rolar, fiquei intrigado com a mobilidade dos jogadores. É certo que tudo mudou, desde a minha época; a força por um corpo entroncado, de musculatura das pernas valorizada, deu lugar a jogadores longilíneos e elásticos, e a velocidade atingiu os tempos da Internet (para mim era o Telex e o Fax), mas algo me dizia que alguém amarrou as pernas dos jogadores do Sporting, e, após 30 minutos de jogo, percebi que amarraram também o estilo de jogo e todo o resto. Não somente cansaram, quase abandonaram o jogo. A equipa parecia um comboio com algum problema nos quadris.

A torcida, contudo, está de parabéns, e merecia mais do Leão.

Apreciei a concentração dos miúdos em campo; era visível a voz do Sr. Keizer na cabeça deles. Gostei da aplicação tática, mas, por outro lado, cheguei a me irritar com a tática escolhida. Fiquei impressionado como hoje em dia se bate mais forte na bola, seguramente é o resultado de muito treino dos fundamentos, mas ao mesmo tempo me irritei novamente por tantos erros de pontaria, seguramente falta de treino, senão de talento mesmo e isso não se compra em farmácia.

Seria o culpado o preparador físico, por tamanha relutância física da equipa de Keizer em se soltar mais no jogo, ou seria mesmo falta de conteúdo sinestésico, desde o guarda golo ao “centro-avante”. Por exemplo, vi dois pontas, o da direita e o da esquerda, marcados por apenas um gajo, sem recurso para driblá-lo, sem dar aquele chutinho básico de dez metros e vencer em velocidade o marcador, para depois cruzar para a grande área com precisão. Vi-os atrapalhados, assustados com a pressão. Qual a pressão?

Mas vi algo positivo sim, a aplicação na estratégia de jogo, reter a posse de bola, mas isso não é mais do que obrigação. Pois não vi jogada ensaiada para marcar o golo. Aliás, fiquei horrorizado com tantas vezes que se perde chance de golo, pelo menos duas foram praticamente como tirar a bola das redes, ao invés de beijá-la com alegria, cortejá-la como a uma dama; as redes, meu caro Keizer e jogadores do time do Sporting, são como as mulheres e o mar, são para serem buscadas como a um enigma e a sua mais divina essência, a da preservação da natureza; no caso aqui, a gestação de

golos. E agora? - Mr. Keizer, faz o favor de animar sua equipa, peça ao preparador físico para soltá-los, mude eu seu script, surpreenda mais. Ainda dá tempo. Força Leão.

«««Agradecimento especial ao Millennium BCP pelos ingressos ao camarote especial »»»

* Nota sobre "rolar a cabeça do inimigo": a origem do futebol é a prática dos guerreiros disputarem um jogo medieval com a cabeça dos inimigos vencidos na guerra; Luís Peazê prepara um romance sobre a magia arquétipa do futebol nos dias de hoje e no futuro.

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