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Seixal Futebol Clube 1925


94 anos não é para qualquer um. 
Com um filho de 7 anos. Raridade exemplar.

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Luís Peazê

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Seixal, 05/02/2019 – Pessoas & Palavras preparava-se para cruzar o Tejo pela Ponte 25 de Abril quando ouviu a história do Rock de Garagem, na Radio Joinville Web, um sonho realizado pelo empreendedor Everson Andersen da longínqua, no tempo e espaço Joinville, berço de índios tupis-guaranis, assentada originariamente por portugueses, mais tarde reinventada por europeus do norte,  hoje lugar bucólico e febril de indústrias e vários apelidos, Cidade das Flores, dos Príncipes, da Dança e eu nem imaginava mergulhar mais fundo ainda no passado, em 50 mil anos para entender como surgiu o Cante Alentejano, que, tamanha ignorância a minha, jamais havia tido contato, imagine o nobre leitor, no aniversário de um time de futebol vim a conhecer. E numa coisa meu querido avô Enéas Paz estava equivocado, “futebol” não é sinônimo de confusão, como ele costumava dizer. – Vovô, futebol é coisa séria, no resto o senhor tinha razão e hoje mais do que nunca eu lhe entendo. Tudo o que vem da terra é bom. Vovô carregava nas veias gotas de sangue das planícies onduladas do Alentejo, e eu também não sabia.


Antes mesmo de começar a solenidade da celebração do aniversário de 94 anos do Seixal Futebol Clube 1925, um grupo de senhores de cabelos brancos que ostentavam lenços vermelhos ao redor do pescoço lembrou-me os Cambarás, a minha gente e outra vez meu avô. Faltavam-lhes o pala, as bombachas e a pilcha toda mas a lembrança latente sinalizava-me algo muito especial. Foi como a preliminar de um jogo importante de futebol, estádio repleto, a torcida aguardando o primeiro pontapé na pelota, aquele grupo, salvo engano brutal, duas dezenas de sexa-septua e octagenários, foi introduzido e começou uma performance impressionante; montaram um batalhão compacto, deram-se os braços enganchados um no outro como uma corrente humana e começaram a pendular os corpos de um lado para o outro, suavemente, cadenciados, o senho sério, uma só expressão no grupo todo, sincronizados em sentimento, uma percussão pulsando corações que ecoariam um canto longínquo de toda região e história do Alentejo conservado por tradição oral. 
 

Primeiro o líder Manuel Janeiro informou quem daria o ponto, é assim desde que o Cante Alentejano é conhecido, aí vêm os versos com a potente soma de vozes e autêntico sotaque português das freguesias interiores, das mais recônditas aldeias, em coro. Aprenderam com os pais e avós que aprenderam da mesma forma arrastando no tempo esta tradição. Comovente. Aquele embalo de corpos me impressionou mesmo, quando o coro parou para então uma voz em alto entoar versos que oscilam entre o lamento e a suplica de um amor intangível, novamente a deixa do “ponto” e tudo outra vez até terminar o que para mim era um recital de um soneto. Pelo menos métrica não me faltou aos ouvidos, mas Manuel Janeiro me explicou que se trata apenas de uma cadência meticulosamente respeitada, rigorosa. Atualmente o Cante do Alentejo, para quem não sabia como eu, é patrimônio imaterial da humanidade conferido pela UNESCO.
 

Era, afinal de contas, a celebração dos 94 anos do Seixal Futebol Clube que havia interrompido sua pujança – circunstâncias de administrações desastradas do passado não muito distante – e hoje, sob a mesma bandeira, apenas com o ano de seu nascimento na nova certidão, é o Seixal Futebol Clube 1925, carinhosamente conhecido nas redondezas como  “filho do Seixal”, desde 2012.  Filho de verdade da empresária Sra. Maria Teresa Andrade, atual presidente do clube, que reergueu o clube com a paixão de uma verdadeira mãe. Raridade exemplar por vários motivos, inclusive por ser uma mulher dirigindo um clube na maioria formado por homens, à frente da administração nos últimos sete anos, não foi sem justa causa que recebeu homenagens no evento, na forma de placas e diplomas e, emocionada com todo o direito, ela mesma distribuiu diplomas e certificados por mérito a membros de sua equipa.  
 

Atualmente, o Seixal abriga perto de 500 jogadores, somadas as várias categorias. Com um programa sólido em franco andamento, conquistou o retorno ao clube de ex-jogadores e ex-técnicos, alguns deles que já envergaram a camisola do próprio Seixal em aureos tempos e de outros grandes clubes de renome em Portugal. Uma promessa garantida para quem quer levar seus miúdos para a complementaridade de formação e entretenimento desportivo, pois não há melhor esporte coletivo que ajude a formar e disseminar princípios de boas práticas na coletividade do que o futebol, e o basquete, outra modalidade mantida a todo vapor pelo Seixal FC 1925; aliás, a solenidade foi abrigada do frio de 7 graus naquela noite sob o teto do pavilhão da quadra de basquete.  
 

A mesa de convidados especiais, prestigiando o evento com os seus títulos e importância no Distrito de Setubal e mesmo a nível nacional, o caso do Sr. António dos Santos (CDU), presidente da União das Freguesias do Seixal, Arrentela e Aldeia de Paio Pires, e Senhores: Carlos Pólvora, Presidente da Mesa (FCDS), Manuel Amaral, Vice-Presidente da Associação das Colectividades do Concelho do Seixal, Francisco Cardoso, Presidente da Associação de Futebol de Setúbal e Joaquim Tavares (CDU), Vice-Presidente da Câmara Municipal de Seixal. 
 

Foi uma noite solene, foi uma noite de bolo de aniversário e, para este observador, foi uma aula de cultura portuguesa genuína. – Quando vovô contava aqueles “causos” que me pareciam sair de um filme de Hollywood, eu não imaginava que chegaria tão perto de um de seus personagens: António Raposa Tavares, natural de Beja, baixo Alentejo, o desbravador português que, em 1622, desceu a cavalo de São Paulo e basicamente fundou o que é hoje o Rio Grande do Sul, onde nasci, expulsando os espanhóis e jesuítas, marcando as primeiras fronteiras que separariam mais tarde o Uruguai, a Argentina e o Paraguai do Brasil.
 

Saúde e muitos anos de vida Seixal Futebol Clube 1925, que seu filho dê muitas alegrias, clube e torcida “…num batalhão compacto, braços enganchados um no outro como uma corrente humana, sincronizados em sentimento, em percussão pulsando corações”.

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Foto Christopher Alves

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Origem do Cante Alentejano

O Cante Alentejano é uma tradição com um passado, provavelmente, mais longinquo que o Cante Franco - Romano. A forma como é executado, a ligação à vida no campo, sua estrutura modal, indicam uma tradição anterior ao Cante Gregoriano. A explicação desta tradição pode residir na cultura dos antigos Vetões que habitaram a região, onde se pratica este tipo de cante, entre o sul do alto Alentejo e o Algarve, para onde foram empurrados à cerca de 2000 anos por tribos vizinhas. 

Foto Christopher Alves

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Foto Christopher Alves

Foto Christopher Alves

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Foto Christopher Alves

Sede do Seixal Futebol Clube 1925 - Estádio do Bravo - Foto PTDronica http://www.ptdronica.com/

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